terça-feira, 6 de março de 2007

O IMPÉRIO DOS SENTADOS

O IMPÉRIO DOS SENTADOS

Aí está em pleno funcionamento a novíssima burocracia.Mais sofisticada pois foi minuciosamente enfiada nas novas tecnologias.Computadores e impressoras estão por tudo o que é sítio público e despejam papel a granel.Menores custos e melhoria de processos é que parece continuarem ausentes de muitas cabeçinhas mandantes.
Vamos a factos para explicar que não basta vender… Simplex.Se não se pensar nos clientes finais e na melhoria dos serviços prestados,simplificando e anulando processos desnecessários,as cosméticas introduzidas continuarão a produzir mais do mesmo.Para obter uma licença de caça continua a exigir-se no “guichet-mãe” que se vá a outro “guichet-filho da mãe” buscar o registo criminal para entregar no primeiro “guichet”.Isto é a administração do Estado obriga-nos a andar aos papéis.Que tal se em vez da “Guichenet” aderissem à “Internet”?Poupa-se em deslocações e em tempo e desta forma aplaudimos as novas tecnologias.
Nos Centros de Saúde atinge-se o inimaginável a nível tecnológico.Para marcar uma consulta temos que nos deslocar ao local,porque pelo telefone ninguém atende.Após apresentação do cartão de saúde e a correspondente fila de espera,o inevitável computador marca o dia e a hora.Tudo normal se a paciência não faltar.O irrisório acontece quando a inevitável impressora deita para fora uma folha A4,apenas preenchida no ultimo quarto de página com os dados referentes à marcação da consulta.A funcionária de serviço dobra a dita folha,rasga o quarto preenchido e deita para o lixo os outros três quartos da folha.Mas há mais.Quando chega ao dia da consulta repete-se a mesma cena até chegarmos ao computador.Aí sai da dita máquina mais uma folhinha A4,toda preenchida.De novo a funcionária dobra a folhinha,rasga-a à mão,dá-nos mais um quarto da dita folhinha que serve de recibo de taxa moderadora.A restante folhinha cheia de dados vai …para o lixo.Tanto computador,tanta impressora ,tantos cartuchos de tinta,tanto papel,tanto trabalho,tanta burucracia desnecessária traduzida apenas em processos obsoletos e desnecessários que apenas representam custos.Que tal uma terapia de Simplex,simplificando processos reduzindo custos e melhorando,de facto,os serviços aos cidadãos?
Vem a propósito recontar uma conhecida história que ilustra este e outros exageros tecnológicos que se estão a transformar numa incomodativa ditadura tecnológica.
Um desempregado da nossa praça concorreu a um concurso para um lugar de segurança para a Microtec.Após entrevista feita pelo director de recursos humanos o lugar foi-lhe atribuido.Pediram-lhe o “e-mail” para lhe enviarem a ficha para preencher e posteriormente comunicarem a data de início de funções.O nosso homem respondeu que não tinha computador e muito menos “e-mail”.Foi-lhe dito que sem “e-mail” é como se não existisse e quem não existe não pode trabalhar.Irritado e apenas com 5 euros no bolso resolve ir ao mercado comprar uma caixa de 15 quilos fruta.Monta uma pequena banca em local de bom movimento e passadas algumas horas tinha vendido toda a mercadoria e quadruplicado o capital inicial.Durante o dia e de acordo com o movimento da zona repetiu o processo mais algumas vezes.Verificou no fim do dia que tinha no bolso 100 euros.Nos dias seguintes foi repetindo o processo de trabalho adaptando-se às necessidades dos clientes e consequentemente diversificando as vendas.O negócio prosperava e a sua iniciativa também. Rapidamente conseguiu comprar uma pequena carrinha e melhorar os serviços,adequando os produtos à sua clientela.Os negócios continuavam a bom ritmo e o passo seguinte foi comprar um camião pois clientes não faltavam.Conhecedor do mercado rapidamente evoluiu para o negócio da distribuição e comprou uma pequena frota de veículos.Alguns anos mais tarde o então desempregado tornara-se grande empresário do negócio da distribuição e logistica.
Rico e bem instalado na vida chama um corretor de seguros pois quer fazer um seguro de poupança para acautelar o futuro da sua família.O corretor depois de fechado o negócio pede-lhe o “e-mail” para enviar o contrato.Perante o espanto do corretor,o empresário diz-lhe que não tem tal coisa.O corretor não quer acreditar e pergunta-lhe como é que um homem de negócios conseguiu construir tão grande empresa sem ter “e-mail” nem computador.Imagine onde o senhor teria chegado com estas tecnologias.O empresário olhou para o corretor e respondeu-lhe sem hesitações:”-seria segurança da Microtec”.Concluindo,a internet não soluciona os problemas da vida.O trabalho é que cria riqueza e sentados pouco se faz.Se por acaso alguém lhe mandar este artigo por “e-mail”,cuidado pois pode estar mais perto de ser segurança do que empresário.

José Vicente Ferreira
Gestor e Docente Universitário

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